segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Jejum

Explicarei os mecanismos corporais no período do jejum bem como as fontes de energias alternativas que o nosso corpo busca na deficiência de glicose, basicamente, o processo que o corpo utiliza chama-se gloconeogênese.
Gluconeogênese:
 Ocorre predominantemente no tecido hepático, é estimulada pelo glucagon. Esta via ocorre simultaneamente a glicolise hepática, e tem sua máxima velocidade quando esta está mínima. Seus principais precursores são: lactato, glicerol e aminoácidos (exceto lisina e leucina).
1.       LACTATO: No caso do jejum, é liberada pelos eritrócitos por glicolise anaeróbica.
Mecanismo - O lactato passa para o fígado, no qual é convertido a piruvato pela lactato desidrogenase, e este entra no Ciclo de Cori, no qual irá transformar-se em glicose que cairá na corrente sanguínea para ser utilizada pelos músculos esqueléticos.
2.       AMINOÁCIDOS: O mais importante desta classe é a alanina. Este e os outros aminoácidos aqui utilizados são liberados pelos músculos esqueléticos.
Mecanismo – O aminoácido é transportado para o fígado, no qual sofre transaminação para gerar piruvato. Este através da gliconeogênese é transformado em glicose que retornará ao músculo ou será degradado pela via glicolítica. Este processo é chamado ciclo da glicose-alanina. É neste processo também que ocorre o transporte de NH4+ para que ocorra a síntese da uréia pelo fígado também.
3.       GLICEROL: Este composto faz parte de duas vias metabólicas. No jejum em especial, ele fará parte da formação de corpos cetônicos principalmente.
Mecanismo – Os triacilgliceróis presentes no tecido adiposo são quebrados em acidos graxos e glicerol, que são transportados para o fígado onde começa a via de formação dos corpos cetônicos já explicados aqui no blog no post anterior.

Vale lembrar que o a formação de corpos cetônicos é feita principalmente para suprir tecidos extra-hepáticos, principalmente o cérebro. Neste órgão, após uma jornada maior sem glicose, ele passa de consumidor exclusivo de glicose (120mg/dia) para consumidor preferencial de corpos cetônicos (100mg/dia), ainda que utilize uma quantidade pequena de glicose para sua manutenção (40mg/dia). 

É a partir da manutenção da gliconeogênese e intensificação da formação de corpos cetônicos que o nosso organismo consegue suportar períodos longos de jejum, como até 30 a 60 dias. Deste modo, é notório com o fígado é a peça principal no nosso organismo para o fornecimento energético na debilidade de glicose, exportando-a para o nosso Sistema Nervoso Central e para as outras células, conseqüentemente, ele é fundamental para a manutenção da vida.

Motivações para o Jejum: Dentre as mais comuns, encontramos o jejum medicinal e o religioso.

Pré Operatório: O jejum neste caso é de um período necessário para o esvaziamento gástrico, para que não ocorra aspiração do conteúdo gástrico, o que levaria a pneumonite aspirativa.

Religioso: Há diversos motivos, que variam de acordo com a religião a ser analizada, como por exemplo, os Judeus fazem jejum no Dia do Perdão (Yom Kippur), no qual eles não ingerem nada (nem mesmo água) durante um período de 24 horas. Há também o jejum Muçulmano, em apologia a Ramadã, no qual eles ficam sem comer do nascer ao por-do-sol, acreditando que seus pecados serão pedoados. Entre outros menos radicais.
A título de curiosidade,há relatos que Gandhi teria feito jejum 17 vezes, sempre em solidariedade a quem passava fome ou em protesto à violencia.

Perigos de um jejum prologado:
Cabe destacar aqui, que o nosso corpo tem, em média, reservas para ficarmos sem comer por volta de 60 dias. Porém, há diversos estudos comprovando o quão prejudicial a nossa saúde é ficarmos neste estado metabolico.
Há alterações hormonais que culminam em mudanças de humor, o hálito fica ruim (principalmente em estágios mais avançados devido aos corpos cetônicos),infecções causadas pela debilidade do nosso organismo, pode ocorrer o que chamamos de “hipoglicemia rebote”, na qual o nosso corpo fica um certo tempo sem produzir insulina pela ausencia da ingestão de carboidratos, e quando o jejum é interrompido, há uma secreção elevada (normalmente além da necessária) deste hormonio, causando uma grave hipoglicemia. Neste contexo, é válido então lembrar que após um jejum prologado, o ingestão de alimentos deve ser feita paulatinamente para não ocorrer desregulações no nosso metabolismo.

Aqui está um esquema básico sobre a Gliconeogênse:
Referencias:
A. Marzzoco, B.B. Torres (1999) Bioquímica Básica. 2nd ed., Guanabara-Koogan,
Rio de Janeiro.
D.L. Nelson, M.M. Cox (2005) Lehninger Principles of Biochemistry. 4th ed.,
Freeman and Company, New York.
D. Voet, J.G. Voet, C.W. Pratt (2002) Fundamentos de Bioquímica. Artmed, Porto
Alegre.
L. Stryer (1992) Bioquímica. 3rd ed., Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro.


Alline Monteiro

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